sábado, 16 de janeiro de 2010

REFLETIR SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA

RESUMO
Este trabalho objetiva refletir sobre a prática educativa dos alfabetizadores que
atuam nas classes de alfabetização de jovens e adultos, na cidade de Quijingue Estado da Bahia.

Ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura,
fora de boniteza e alegria.
Paulo Freire

As turmas de alfabetização no município são formadas por: aposentados,
agricultores, pescadores. As salas de aula funcionam em escolas municipais.

A Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, coordenado pelo
francês Jacques Delors (SHIROMA, 2000), em documento produzido na última década do
século passado denominado Relatório Delors, propôs um novo conceito de educação:
EDUCAÇÃO AO LONGO DE TODA A VIDA, recomendando que se explore o potencial
educativo dos meios de comunicação, da profissão, da cultura e do lazer, redefinindo dessa
forma os tempos e espaços destinados à aprendizagem. O relatório suscita uma
“SOCIEDADE EDUCATIVA” e ao mesmo tempo “SOCIEDADE APRENDENTE

A propósito, tomamos os ensinamentos de PAULO FREIRE – grande teórico
brasileiro da educação de jovens e adultos – quando diz que “ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, na prática social de que tomamos parte”. Eis, aí, no dizer de Paulo Freire, a sociedade educativa ao mesmo tempo sociedade aprendente. Não há como separar o estudante – jovem ou adulto – que participa do projeto de alfabetização, do agricultor
Como ignorar as dificuldades encontradas nas comunidades tais como: saneamento
básico, saúde, produção econômica, ausência ou não de renda, do aluno que pertence a essa
comunidade.
Nesse sentido, pensar metodologias inovadoras para o trabalho educacional a ser
desenvolvido com os jovens e adultos é pensar sob o aspecto da contextualização e interdisciplinaridade, é considerar o viés teórico do conceito de sustentabilidade e é, também, pensar uma identidade e uma consciência terrena. A metodologia segundo LIBÂNEO é “que dá colorido às aulas tornando-as mais dinâmicas e significativas”. Está comprovado que o aluno aprende o que é importante para ele.
No processo de ensino-aprendizagem torna-se imprescindível que a motivação ocorra
a fim de manter o interesse do alfabetizando nas atividades propostas envolvendo os seus
aspectos, físico, cognitivo e emocional. Vale ressaltar que o alfabetizador é de fundamental
importância, nesse processo, haja vista o seu papel de mediador da aprendizagem.



O alfabetizador ao estabelecer os primeiros contatos com o alfabetizando valoriza a
sua história de vida, seus sucessos e frustrações, alegrias e tristezas, em diferentes áreas da
vida e principalmente suas experiências.
O alfabetizando interiorano possui no seu entorno a seguinte realidade: (DESCREVER AS REALIDADES)...................................



O alfabetizador ao iniciar o processo de alfabetização privilegia o contexto. A
contextualização permeia todo o processo. Os alfabetizandos começam falando a respeito do
seu nome, a importância de se ter uma identidade, depois vão citando o nome dos seus
familiares, das escolas, igrejas, ruas, mercearias, barcos, animais, e outros objetos. Por
esta razão foi necessário evidenciar onde o aluno vive, considerando que este cotidiano serve como matéria de estudo. O alfabetizador além de contextualizar remete as suas ações ao trabalho interdisciplinar, incluindo noções de matemática, de ciências, de geografia, de história na leitura e escrita, etc.
A interdisciplinaridade é de grande importância no ensino de jovens e adultos por que
garante a coerência e unidade no processo de construção do conhecimento, evitando a
fragmentação dos conteúdos em compartimentos estanques e oportuniza aos alfabetizandos o diálogo, a análise da realidade onde vivem, o desenvolvimento do espírito crítico, a
autonomia tão necessária à vida cidadã.

Outro aspecto de grande relevância no decorrer do trabalho educativo diz respeito ao
prazer que o alfabetizando demonstra pela aprendizagem. As motivações são diferentes umas das outras. Os alfabetizandos querem ser alfabetizados para: ler a Bíblia, escrever cartas para filhos e amigos que moram distantes, ler jornais e revistas, nomes de produtos em mercearias no momento de fazerem suas compras, reconhecer dinheiro e etc. O importante é que a aprendizagem seja prazerosa.

O analfabeto que está sendo alfabetizado é aquele que passou o dia trabalhando na roça, pescando, caçando, enfrentando calor, dificuldades, as mulheres acompanham os maridos nas atividades do roçado, outras se dedicam a trabalhos domésticos. Diante disto, há
necessidade de um bom relacionamento entre alfabetizador X alfabetizando no decorrer das
aulas oportunizando a todos a alegria de estarem juntos partilhando a descoberta do ato de ler e escrever. O lúdico também tem sido utilizado no processo de ensino-aprendizagem.

A prática educativa dos alfabetizadores em algumas comunidades do município tem
concorrido para uma reflexão do trabalho que está sendo realizado, visando à utilização de
ações pedagógicas mais eficazes que concorram para a aprendizagem do alfabetizando. Isto
implica no repensar a prática, buscando novas formas de atuar, um novo jeito de ensinar e
aprender de modo que garanta a aprendizagem do jovem e do adulto.


No início do processo de aprendizagem da leitura e da matemática o alfabetizador
explora os acontecimentos ocorridos no cotidiano do alfabetizando a fim de contribuir para
uma aprendizagem significativa. Utiliza palavras referentes ao nome das aves, das frutas, dos peixes, árvores e etc. Outra ação que vem sendo desenvolvida é à saída dos alfabetizandos da sala de aula para vivenciar a realidade da comunidade, através de passeio a mercearia, possibilitando ao alfabetizando empregar a leitura para identificar o produto que vai comprar resolver pequenos problemas de adição e subtração, na hora do pagamento das compras, desenvolvendo, assim, seu raciocínio lógico.
Essa atividade permite que o aluno faça uma análise crítica das diferenças de preço
que existem entre os produtos oferecidos pelas mercearias e tome a decisão de só realizar suas compras onde ofereça o melhor preço. As atividades de alfabetização são realizadas de forma lúdica, contextualizada e interdisciplinar a fim de permitir a absorção da aprendizagem. Vários jogos são utilizados no decorrer das aulas, dentre eles: jogo da velha, quebra-cabeça, quadrado mágico, dominó, que favorecem o desenvolvimento do raciocínio lógico, a atenção, a percepção e a criatividade do aluno. O alfabetizador a partir do desenvolvimento dessas metodologias pode constatar maior interesse por parte dos alfabetizandos em freqüentar as aulas, obtendo melhor rendimento escolar.

O resultado desta prática vem nortear o trabalho do alfabetizador. Se os resultados não
são satisfatórios, o alfabetizador juntamente com o gestor e coordenador a partir dos dados
obtidos, revêem essa prática, selecionando o que foi positivo e abandonando o que não deu
certo, a fim de recomeçar novamente, e aprimorar a prática. O trabalho cultural local vem
despertando no alfabetizando maior interesse na aprendizagem da leitura e no desenvolvimento da cidadania.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
FREIRE, Paulo. Política e Educação. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Questões da
Nossa Época).

_____. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1997.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 8.ed. São Paulo:
Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2003.

SHIROMA, Eneide Oto. Política Educacional. Rio de Janeiro: DP&A, 2000

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