sábado, 16 de janeiro de 2010

Entre na Roda

Entre na Roda
Mônica Krausz
Saber dar as mãos e trabalhar em parceria talvez seja uma das habilidades mais importantes para todo professor, em qualquer nível de ensino, fundamental, médio ou superior

Ele segue pelo corredor da escola dando tapinhas nas costas de seus alunos, é notado por todos, que respondem com um sorriso imediato. Entra em classe com um sonoro “Bom dia!” e uma piada na ponta da língua. Ele coloca seus alunos nos ombros e os vira de cabeça para baixo. Traz sempre novidades tecnológicas, mas também traz histórias e brincadeiras do tempo dos seus avós. Fala, orienta, mas está pronto a ouvir seus alunos. Tem conhecimento, mas admite quando não sabe.

É persistente e quer aprender sempre mais para levar o que há de melhor aos seus alunos. Aqui não se fala de um professor, mas de muitos que obtém sucesso em suas carreiras, tanto no ensino fundamental, como no médio e no superior. Esse é o perfil dos professores mais queridos pelos alunos, independente da série ou do nível de ensino em que eles estudam.

Para obter sucesso na carreira é preciso em primeiro lugar, bom humor e alto astral. Também ressalta a força da afetividade e do carinho para com os alunos e, principalmente, em sua garra e força de vontade, na hora de transpor obstáculos, de avaliar porque uma estratégia deu certo com uma turma e não deu com outra. “Além da dedicação em sala de aula, eu procuro estar disponível para a escola, participar dos seus projetos, contribuir sempre”, explica.

A avaliação dos alunos

Essa postura é bem avaliada por seus alunos. “Ele entende o nosso lado.“Dá liberdade para que a gente fale e não debocha das nossas dúvidas”A principal qualidade do professor é saber dosar brincadeira e seriedade em sala de aula.

Vê suas aulas como um show, um espetáculo em que cada aluno é um personagem, cada um tem uma função, alguma contribuição a dar e isso também é notado pelos seus alunos. “Ele não dá mais atenção para os alunos bons, para os da frente ou os do fundão... ele é o mesmo para todos.Ele fala com a gente de igual para igual, usa as nossas gírias, entra na roda. De acordo com os alunos, até para se retirar de cena o professor tem um ritual aprovado pelo elenco da classe. “Ele sempre diz, Senhoras e Senhores, obrigado pela atenção e até uma próxima oportunidade”

As diferenças de níveis e a personalidade de cada professor

Alguns se sente mais à vontade com os alunos do ensino médio e das últimas séries do ensino fundamental.Nnas primeiras séries do ensino fundamental é preciso muito mais paciência, muito mais afetividade, carinho, atenção. Tudo precisa ser muito mais claro, direto e objetivo.
De acordo com Ana Paula Jesus de Sousa, psicóloga e consultora da Spaço In, empresa de consultoria e assessoria educacional especializada na colocação de profissionais de educação no mercado de trabalho, existem alguns traços e características de personalidade que fazem com que um profissional acabe se adaptando mais ou menos a um nível de ensino. Acompanhe:
• Até a terceira série do ensino fundamental – o professor necessita ser um profissional mais paciente e dinâmico, que goste e tenha habilidades para lidar com crianças. Já no ensino fundamental de quarta a sexta séries, a necessidade de paciência também está presente, mas é hora de preparar o aluno para caminhar sozinho. Se faz necessário delegar atividades proporcionais ao desenvolvimento desses alunos, para que eles tenham a sua própria organização e independência.
• Da sétima série do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio – nessa fase o mais importante é a habilidade de negociar e estabelecer regras, jogo de cintura para dosar humor e seriedade. Ana Paula diz que o adolescente gosta de, o tempo todo, desafiar o professor, medindo conhecimento, testando até onde ele pode chegar com as regras e averiguando se ele pode confiar no professor. Para essa turma, o ideal é estabelecer as regras do jogo logo no primeiro dia de aula e ser sempre fiel a estas regras.

Complexo de Peter Pan

Um professor de 35 anos, diz se sentir mais à vontade com os alunos de primeira a quarta séries do ensino fundamental. “Eu me divirto muito com eles”, conta. “Posso dar aulas no ensino médio e no ensino superior, mas sempre pretendo reservar um tempo para dar aulas para as crianças também. Professor de ensino fundamental e ensino médio e superior, confessa que talvez tenha um pouco de complexo de Peter Pan, o menino que não queria crescer nunca. “Eu me sinto uma eterna criança e por isso fico tão bem quando estou com elas”.

Professor de educação artística no ensino fundamental e história da arte no ensino médio e no superior, Patrício gosta mesmo é de colocar a mão na massa, desenhar, pintar e bordar com os alunos, fazer bonecos, contar histórias e fazer teatro. Sua vivência com as crianças já lhe rendeu inspiração para publicar dois livros pela editora Paulinas, Beleléu, a história de um monstrinho verde que esconde as coisas das crianças bagunceiras; e Ovelhas e Lobos, uma história que brinca com o desenho das letras e o significado das palavras.

Ele acredita que ainda está descobrindo a receita para trabalhar com os adolescentes. “Eles são mais misteriosos, incompreensíveis, mas também são lindos e fascinantes”. Hoje ele dá aulas para alguns adolescentes que foram seus alunos quando crianças. “São os mesmos, mas tão diferentes”, conta. Também já deu aulas para os filhos de uma aluna sua do ensino superior. Com os alunos do curso superior, aliás, Patrício conta que é preciso ter uma espécie de aliança. Um casamento entre o conhecimento prático e acadêmico do professor e a cultura de massa presente na vida do aluno. “Precisamos fazer das limitações, de professores e alunos, um instrumento para progredir acredita que chegar ao nível de dar aulas no ensino superior é um grande progresso na carreira de qualquer professor. Um crescimento. Ele acha que isso também deve ser uma meta. “O professor precisa querer saber sempre mais que os outros”, diz. “Enquanto eu não souber mais que os outros, eu vou continuar tentando e isso faz com que eu prossiga sempre porque eu nunca vou conseguir saber de tudo”.


As 10 principais características de um bom professor:

1) Formação adequada – Atendendo as exigências do MEC e tendo como base a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996). Hoje as escolas particulares de médio e grande porte só contratam profissionais com nível superior, seja qual for o nível de ensino em que for dar aulas. Como a concorrência é acirrada, elas exigem o melhor. Para lecionar no ensino superior, por exemplo, pela lei o professor pode ser especialista, mas o mercado só está contratando profissionais que pelo menos estejam cursando o mestrado.

2) Didática de ensino – Domínio do conteúdo a ser abordado em sala de aula (conhecimento técnico) e uso de linguagem adequada ao público-alvo. A linguagem adequada é aquela que comunica, que faz o seu público entender. Geralmente com os adolescentes a linguagem tende a ser mais descontraída, menos acadêmica e técnica como no ensino superior. Para aperfeiçoar a didática e o domínio do conteúdo a receita é muita leitura e troca de experiências com participação em cursos e congressos.

3) Dinamismo – Geralmente é um professor ativo, alegre e que tem facilidade em se comunicar, atrair atenção e fazer diversas coisas ao mesmo tempo ou pelo menos em um tempo menor. Ele deixa os problemas em casa, pois em sala de aula precisa ser alto astral, estar de bem com a vida. Ele também não leva os problemas de uma classe para a outra.

4) Flexibilidade – Sabe trabalhar com regras de cada instituição de ensino, lida com a situação do dia-a-dia, trabalha em equipe, administra suas aulas de acordo com o que esta acontecendo na sala.

5) Criatividade – Tem capacidade de lidar com improvisos, “jogo de cintura” em sala de aula, principalmente para lidar com questões de indisciplina e baixa motivação.

6) Iniciativa, garra e força de vontade – As instituições não são mais paternalistas. O profissional é responsável pela sua própria carreira, devendo buscar aprimoramento por si só, sem esperar que a escola lhe pague ou promova cursos, encontros, etc. Buscar conhecimento que vão além daqueles com os quais trabalha em sala de aula.

7) Inovação – Atenção às mudanças metodológicas e novidades de mercado, trazendo exemplos reais para sala de aula e fazendo uso de recursos proporcionados pelas novas tecnologias (softwares educativos, Internet, recursos audiovisuais, etc.).

8) Organização, pontualidade, comprometimento e responsabilidade – Entrega de notas e diários em dia, cumprimento de horário para o início e término das aulas, organização de materiais e atividades de alunos; lembrando que o trabalho que ele realiza em sala de aula trará para o aluno a percepção da qualidade do
professor que ele é e do ensino oferecido pela instituição.

9) Afetividade e sensibilidade – Para lidar com muitos conflitos pessoais, medos e inseguranças; e com situações difíceis como a da morte, da doença e todos os problemas que os alunos carregam para a sala de aula.

10) Bom uso das experiências adquiridas – Em caso de estágios, não fazer apenas estágios de observação, mas participar, contribuir, aprender realmente. Já enquanto profissional, buscar desenvolver seu trabalho de modo que gere resultados imediatos e que também possam ser valorizados no futuro.


Encontre o seu perfil

Tais características de perfil são comuns aos profissionais de diferentes níveis, de modo que um professor do ensino superior pode ter características também encontradas em um professor do ensino médio. O importante é o profissional avaliar quais as características que predominam em sua personalidade. Veja onde você se encaixa!
Ensino Fundamental de 1a. a 6a. séries Ensino Fundamental de 7a. a 8a. séries e Ensino Médio Ensino Superior
Tem paciência para lidar com o ritmo e as necessidades de cada criança. Tem flexibilidade, jogo de cintura para negociar com os alunos e lidar com situações inesperadas provocadas por esses. É orientador, desenvolve aulas mais teóricas, mostra caminhos para a pesquisa.
Tem criatividade para provocar situações de desafio e estímulo. Tem habilidade para trabalhar com regras e com a ânsia de desafio dos alunos. Possui carreira acadêmica (Mestrado, Doutorado)
Inovar constante, pois toda aula deve ter o elemento da surpresa. É dinâmico e capaz de encontrar soluções imediatas. Tem facilidade para transmitir a teoria utilizando exemplos de aplicabilidade profissional
Tem carisma, sabe ser especial. Tem capacidade de improviso para surpreender os alunos e sair da rotina. Desenvolve aulas visando a formação para o mercado profissional.
Mostra afetividade e inspira confiança. Tem boa argumentação. Incentiva a pesquisa.
Atende cada aluno de forma especial. Contextualiza a teoria. Possui publicações.
Tem habilidade e prazer no trato com crianças. Desenvolve atividades que permitem vivenciar a teoria. Tem postura acadêmica.
Tem facilidade para ensinar o mesmo conteúdo de diferentes maneiras. Desenvolve atividades que estimulam a competição. Tem gosto por pesquisas.
Desenvolve materiais ilustrativos. Usa linguagem mais próxima da realidade dos alunos. Trabalha as regras de modo claro e objetivo, deixando o aluno decidir por si.
Ministra aulas utilizando jogos e materiais concretos. Realiza atividades de estudo do meio. Viaja com os alunos. Fornece bibliografia e o aluno que desenvolve seu trabalho.
Tem dinamismo no desenvolvimento das atividades. Incentiva a liberdade com responsabilidade. Usa linguagem mais objetiva.
Organização. Dá autonomia para que o aluno tome decisões. Participa das atividades acadêmicas.
Faz uso da ludicidade, da brincadeira para ensinar. Quanto aos trabalhos a serem desenvolvidos, dá dicas, orienta, elabora roteiros, para que o aluno desenvolva seu trabalho. Compartilha experiências com outros professores.

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